domingo, 16 de maio de 2010

Políticas públicas...



Recebi essa semana um email interessante e infelizmente não pude comprovar a veracidade, afinal a internet também é um grande meio para disseminação de boatos.

Longe de qualquer posicionamento partidário e considerando o fato real, o que coloco aqui é uma simples análise sobre a situação.

Assim dizia o email:

Como o setor têxtil é de vital importância para a economia do Ceará, a demanda por mão de obra na indústria têxtil é imensa e precisa ser constantemente formada e preparada.

Diante disso, o Sinditêxtil fechou um acordo com o Governo para coordenar um curso de formação de costureiras.

O governo exigiu que o curso deveria atender a um grupo de 500 mulheres que recebem o Bolsa Família.

O importante acordo foi fechado dentro das seguintes atribuições: o Governo entrou com o recurso; o SENAI com a formação das costureiras, através de um curso de 120 horas/aula; e o Sinditêxtil, com o compromisso de enviar o cadastro das formadas às inúmeras indústrias do setor, que dariam emprego às novas costureiras.

Pela carência de mão obra, a idéia não poderia ser melhor.

O curso foi concluído e, com isso, os cadastros das costureiras formadas foram enviados para as empresas, que se prontificaram em fazer as contratações.

E foi nessa hora que a porca torceu o rabo, gente. Anotem aí: o número de contratações foi ZERO. Entenderam bem? ZERO!

Enquanto ouvia o relato, até imaginei que o número poderia ser baixo, mas o fato é que não houve uma contratação sequer. ZERO.

Sem nenhum exagero. O motivo?

Simples, embora triste e muito lamentável, como afirma com dó, o diretor do Sinditêxtil: todas as costureiras, por estarem incluídas no Bolsa Família, se negaram a trabalhar com carteira assinada.

Para todas as 500 costureiras que fizeram o curso, o Bolsa Família é um benefício que não pode ser perdido. É para sempre. Nenhuma admite perder o subsídio.

Dentro desse contexto, cabem algumas suposições que não são apenas negativas em relação as costureiras.
Primeiro, há de se analisar a situação que essas mulheres desempenham no âmbito familiar. Se forem mães solteiras, o fato de sair de casa pra trabalhar pode ser um problema devido ao fato de não terem com quem deixar os seus filhos. Sabemos a realidade do nosso país sobre creches públicas ou escolas de tempo integral...
O salário oferecido compensa essa saída, frente ao recebido pelo programa governamental?
Quais garantias essas pessoas receberam sobre a permanência mínima delas nas indústrias têxteis que fariam as contratações?

Em uma leitura displicente poderíamos criticar o posicionamento dessas mulheres, mas analisando outras possibilidades vemos que as coisas não são tão simples quanto parecem...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Colocações sobre Estatuto das Cidades

O Estatuto das Cidades nada mais é do que uma caixa de ferramentas. Ele tem ferramentas que permitem para cada cidade, para cada município brasileiro – o Distrito Federal é Município e é Estado, concorrentemente – a possibilidade de aplicação desses instrumentos para promover uma cidade mais justa, mais equilibrada social e ambientalmente.

As zonas especiais de interesse social, o direito de preempção, o IPTU progressivo, o parcelamento e edificação compulsória, podem ser utilizados para impedir que se faça estoque de terras ociosas com infraestrutura, bem localizadas e inúteis, porque não são utilizadas socialmente. Além destes, a regularização fundiária, a outorga onerosa, também são instrumentos importantes para a regulação do uso do solo. Aqui no DF, diante dessa dinâmica imobiliária poderosa, cada mudança de destinação do uso da terra coloca no bolso do proprietário valores imensos, basta que a CLDF transforme o uso de uma área de residencial para posto de gasolina, por exemplo, ou para um Shopping Center, para um hotel ou uma universidade particular. Aquele imóvel que valia cem mil, passa a valer um milhão, dois milhões. A outorga onerosa para alteração de uso, que é pouco usada aqui e no resto do Brasil, é um instrumento que permite combater essa dinâmica especulativa e o Plano Diretor é a chave que abre essa caixa de ferramentas importante para promover a reforma urbana.

No conjunto das Regiões Administrativas, que chamamos de Brasília, há um enorme estoque de terras. Os dados do chamado “déficit habitacional” do Distrito Federal de dois anos atrás, da Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, giram em torno de 120 mil unidades no Distrito Federal, sendo que 80% desse déficit é para a população que ganha de 0 a 3 salários mínimos. E esses instrumentos são fundamentais pra que esse estoque esteja disponível efetivamente como área urbana consolidada e utilizável pela população. No entanto, é imensa a desigualdade entre o Plano Piloto e as outras cidades do Distrito Federal sob o ponto de vista de infraestrutura, de serviços e equipamentos urbanos e as diretrizes do Plano Diretor deveriam ser a referência principal para a elaboração do PPA – Plano Plurianual – e para as leis orçamentárias em cada ano que são votadas pela Câmara para serem aplicadas e reduzirem as desigualdades imensas que existem entre o Plano Piloto e as outras cidades.

Pelo Estatuto das Cidades esse processo deve ser participativo, envolvendo a população na decisão, na implementação e fiscalização do Plano Diretor. Sendo assim, é falsa qualquer proposta de participação que não passe pela capacitação de todos os agentes dos segmentos, pois em muitos casos os participantes não têm condições iguais para promover o debate a altura que o tem requer.

Segregação (MUROS)

"A interpretação do mundo dada por um grupo atua de modo a manter seus participantes e deve dar a eles uma definição autojustificadora...